Livro- As pessoas costumam dizer que já sabem sobre África. Sobre a fome das crianças e das guerras civis. Mas na verdade, ficamos sabendo de muito pouca coisa. É essa a sensação que fiquei após assistir a palestra do serra-leoense, Ishmael Beah na Flip desse ano. Seu livro, que acabou de ser publicado aqui no Brasil, é auto-biográfico e conta da sua infância e adolescência em Serra Leoa, antes, durante e depois da guerra. Para quem espera por uma estória qualquer de um menino na áfrica que viu tudo de longe, prepare-se. Aos doze anos teve que lutar pela sobrevivência com a guerra civil que o país enfretava. Fugiu dos rebeldes e foi separado da sua família, que como muitas outras, morreram de maneira curel pelos rebeldes. Quando conseguiu chegar a um lugar seguro logo foi recrutado pelo exército, que motivava os meninos falando que eles precisavam se vingar do que fizeram com as suas famílias. Era uma questão de sobrevivência, ou ele morria pelos rebeldes, ou morria de fome, e matar foi sua única saída. Por mais triste e chocante que seja essa estória, ela precisa ser lida, pois foi o quê aconteceu com muitos outros meninos, muitos que não viveram pra contar. Além disso, o livro é muito bem escrito. De devorar em dois dias.
Aí vão alguns trechos...
"Numa manhã que fomos a Matru Jong, enchemos nossas mochilas com cadernos cheios de letras de músicas que estávamos aprendendo em nossos bolsos. ... Como pretendíamos voltar no dia seguinte, não nos despedimos de ninguém nem contamos aonde iríamos. Não sabíamos que estávamos saindo de casa para não voltar mais."
" As aldeias que invadíamos e transformávamos em nossas bases... tornaram-se minha casa. Meu pelotão era minha família, minha arma era meu protetor e provedor, e minha lei era matar ou ser morto. Estávamos lutando havia mais de dois anos, e a matança tinha se tornado uma atividade diária. Eu não tinha pena de ninguém. Minha infância tinha passado sem que eu soubesse..."












