O Motoboy Imita o Mito

Cinema - Por entre carros e trânsito, Heracles (Sidney Santiago), um jovem recém saído da Febem, esta tentando mudar de vida em São Paulo. A belíssima narrativa de Os 12 trabalhos, segundo longa do diretor brasileiro Ricardo Elias, enquadra a história de tantos que passam por nós todos os dias. Alguns dias depois de ter assistido ao filme, fui procurar a história que inspirou o roteirista. Da mitologia, Hércules, ou Heracles, era filho bastardo de Zeus com uma mortal. Desde seu nascimento, o herói teve de vencer as perseguições de Hera. As façanhas da deusa iam de serpentes que tentaram mata-lo quando bebê até uma insanidade que o levou a matar os filhos de Mégara, sua filha. Quando li isso pude perceber que o filme é realmente uma excelente releitura do mito. Heracles, que sofre desde pequeno com a vida de cão das periferias de São Paulo, assim como a de tantas cidades nesse país, acaba por cair no crime. Bom, o não menos esperado, o mito atual imita a lenda que puni o herói com 12 trabalhos. Sim, 12! Bom, não sei se doze é um número tão conhecido assim, mas doze no zodíaco representa um ciclo. Doze são os signos, os deuses gregos, doze são os meses de um ano. Acho que ressaltar o número doze é bem significativo nesse momento. Fiquei um tanto curiosa e descobri que por toda a história o número doze foi símbolo do que é completo, do que se conclui de forma perfeita. E não menos estranho, se ainda não se lembraram, doze eram os apóstolos de Jesus Cristo. Em seu longo dia de experiência como motoboy, na empresa em que seu primo Jonas (Flávio Bauraqui) trabalha, Heracles passa pelas mais diferentes provações retratando a dura realidade de trabalhadores dessa paulicéia desvairada. Mais que um ótimo filme, uma linda (apesar de dolorosa) visão de nossa cidade, o filme de Ricardo Elias mostra que os trabalhadores da cidade são os maiores heróis de nossa sociedade. Luiza Costa