sábado, 7 de abril de 2007

Tête-à-Tête

Livro - O relacionamento deles é falado até hoje, polêmico, controverso, enigmático. Não estou falando de socialites desocupadas e sim de dois grandes pensadores do século XX, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Muito é inventado pela mídia e a realidade se torna uma lenda. Deixando tudo claro, como eles mesmos gostariam, saiu uma biografia sobre sua vida juntos. Desde que o livro chegou em minhas mãos, devorei Tête-à-Tête. Já tinha lido livros do Sartre, e entender como ele concebeu tudo aquilo é fantástico. Afinal, todo o existencialismo que ele pregava, surgiu das idéias que ele tentava seguir em sua própria vida. "Nunca esqueceram que tinham escolhas a fazer, e que liberdade acarreta responsabilidade. Discutiam constantemente essas questões. Quais das possíveis ações diante deles seriam as mais responsáveis? Quais seriam as conseqüências de agir de uma forma e não de outra?". Para quem cisma que os dois eram promíscuos e boêmios, que tal perceber que o casal, desde que perceberam que o o que tinham era "essencial e fundamental", fizeram um pacto vitalício em que apesar de um ser o "duplo do outro" não deveriam se privar dos tais "casos contingentes", experienciar de tudo na vida, e ainda por cima, contar tudo um para o outro. Lembre-se que isso se passa no mundo conservador de 1929, não existiam relacionamentos abertos e ao fazer o quê fez, Simone de Beauvoir é até hoje tachada de promíscua, ou de solteirona. Porém, se você é mulher e toma pílula, foi por causa dela. Seu livro mais famoso, "O Segundo Sexo", inspira até hoje mulheres a serem livres. Ainda assim, Beauvoir lutou a vida inteira contra o seu ciúme de Sartre e suas mulheres, mas tentava se corrigir, sentimentos não eram desculpa. O casal nunca teve filhos, mas cada um adotou legalmente uma pessoa próxima para fins legais de herança, no fim da vida. Por causa disso, o livro parece ter uma visão de Beauvoir quando a verdade é que a filha adotiva de Sartre se recusou a permitir qualquer acesso ou publicação da cartas de Sartre que ela tivesse direitos legais. Apesar de nunca terem morado juntos, gostavam de trabalhar um perto do outro, sempre perguntando discutindo e criticando o trabalho do outro. Trabalhavam muito, iam a cafés onde trabalhavam melhor com o barulho. É bom deixar claro que eram lugares simples, e se Les Deux Magots ou o Café de Flore são famosos e caros, é por causa deles. Ainda assim, quebram o paradigma de que filósofos só estudam e não vivem, aplicaram suas filosofias na vida real, ou melhor, tiraram-na da vida real. O casal discutia suas teorias e faziam críticas construtivas a livros, idéias e experiências. Sartre escreve, em O Ser e o Nada: " Cada um quer que o outro o ame mas não leva em conta o fato de que amar é querer ser amado e que assim, querendo que o outro o ame, a pessoa só quer que o outro queria ser amado por sua vez (...) Daí a perpétua insatisfação do amante." Preciso parar, posso escrever horas e horas, pois estou maravilha ao perceber que as pessoas que tiveram o poder de mudar o século XX com o seu pensamento, eram pessoas normais apesar de tudo. Não eram, tornaram-se politicamente engajadas, eram inteligentes mas estudavam muito. E o mais importante, é que nunca deixaram de viver suas vidas, nunca deixaram de amar um a outro. "Uma coisa não mudou e não pode mudar: não importa o que aconteça e o que eu venha a ser, vierei a ser o que eu for com você." disse Sartre. Pode não ter sido um amor de conto de fadas, viver também traz sofrimento. E é por isso mesmo que é muito inspirador. Marina Gurgel Devorem vocês mesmos:, Hazel Rowley, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre Tête-à-Tête, ed. Objetiva

3 comentários:

Marina Gurgel disse...

Nnao coube contar no post, mas o livro conta que Algren, o amante americano de Beauvoir que ficou eternamnete ressentido por ver a prioridade que ela dava a Sartre, comentou posteriormente algo do tipo: "Me falaram que quando fosse a Paris, nnao deixasse de conhecer uma pseudo-cult chamada Simone de Beauvoir..". Eu hein, e isso foi em resposta a um livro dela que izia: "Me falaram que quando fosse a Chicago, falasse com Algren, apesar de todos falarem que era mau-humorado, não achei nada disso." O termo pseudo-cult deve ter sido inventado por mens amargos.
Ps: deixei o livro com a minha vó e a citação tá da minha cabeça.

Anônimo disse...

Deve ser bom mesmo, afinal sua empolgacao nem coube no post..

Anônimo disse...

e minha mãe leu e seu interessou. Garantiu que vai comprar o livro...

 
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